Desde criança na cidade de Andradina, interior de São Paulo, Fabrício Carvalho desejava o mesmo que muitos garotos de sua idade: ser um grande jogador de futebol e ganhar muito dinheiro em sua carreira. Aos 17 anos, Fabrício começou sua trajetória profissional no Andradina Futebol Clube, o que apenas confirmou a sua paixão pelo mundo da bola. Ao mesmo tempo, o atleta sentiu na pele o que é ser um jogador de futebol e enfrentou uma vida financeira recheada de altos e baixos.
Neste mundo de sobreviventes da bola, onde a maioria dos salários é baixo, Fabrício não desanimou e trilhou uma carreira digna de admiração. Atacante de sucesso, ele passou por times como Villa Española (Uruguai), União Barbarense, Nacional de Madeira (Portugal), Ponte Preta, São Caetano, Bragantino entre outros. Hoje, ele é jogador do Cabofriense e é cotado para reforça o Botafogo – RJ no Campeonato Brasileiro.
Para mostrar que a vida dentro do futebol é uma verdadeira “montanha-russa” financeira, Fabrício concedeu uma entrevista para a Nogueira Marques Consultores Associados. Aos 36 anos e com vários títulos na bagagem, o jogador fala sobre o seu sucesso, dificuldades na carreira e conta como se prepara financeiramente para manter uma vida estável com a família.
Quando você começou a jogar futebol, qual a imagem que tinha da vida financeira de um jogador? Como você se imagina ou se imaginava depois de 10 anos de carreira? O futebol atendeu suas expectativas?
FC - Achava que era só glamour e vida cheia de regalias, mas depois que ingressei no profissional vi que o processo era bem mais dificultoso do que imaginava. Hoje, tenho uma vida estabilizada e proporciono uma condição boa pra minha família. O futebol me ajudou, não tenho do que reclamar. Mas, ainda sonho muito alto e espero ganhar muito com o futebol em todos os sentidos.
Quando você ganhou o seu primeiro salário de jogador de futebol, o que você fez com esse dinheiro? Por quê?
FC - Meu primeiro salário era muito pouco só deu pra comprar uma bermuda e uma camiseta e eu como sou cristão uma parte pra obra de Deus.
Na sua infância alguém te ensinou a como administrar seu dinheiro? Se sim, quem e como? E no meio do futebol, algum clube ou empresário passou alguma orientação em relação ao dinheiro?
FC - Sim, minha mãe, meu padrasto e meu tio sempre me orientaram a administrar o meu ganho. Mas, muitas vezes, não dei ouvidos e acabei empregando meu dinheiro em negócios que não era do meu ramo e não me dei bem. Aconselho aos mais jovens a procurarem uma pessoa de sua confiança pra poder investir em algo sólido sem se arriscar. Em clubes, há uma carência de pessoas instruídas pra poder ajudar os atletas a administrar e se planejar para o futuro. Eu vejo vários exemplos de ex-jogadores que se perderam no meio do caminho pensando que o dinheiro nunca vai acabar. Hoje, faço algo que, deveria ter feito antes, como planilhas de controle de gastos. Antes tarde do que nunca.
Hoje, você acredita que administra bem o seu dinheiro? Por quê?
FC - Hoje, tenho o controle dos meus gastos e sei para onde vai meu dinheiro com a ajuda da minha esposa que é formada em administração de empresas. Somos mais “pés no chão” com relação a gastos graças a esse controle diário que fazemos.
Qual a maior dificuldade financeira que você enfrentou durante a carreira de jogador?
FC - Foi jogando no Uruguai bem no início da minha carreira profissional jogando pelo Villa Española, onde me prometeram um salário até razoável na época, só que não pagavam. Eu tive até que morar de favor na casa de um amigo, jamais vou esquecer o que fizeram pra mim.
Você entende alguma coisa sobre investimento? Investe ou já investiu seu dinheiro? Como?
FC - Eu sei que o investimento mais rentável, no momento, é construção civil, imóveis que jamais desvalorizam. Isto é o que procuro fazer, ou seja, buscar de informações que auxiliam em como empregar meu dinheiro para não errar mais.
Em algum momento, você ficou sem clube para jogar ou teve salários atrasados e por conta disso passou por dificuldades financeiras por falta de preparação? Conte como isso aconteceu e como enfrentou esta situação?
FC - Já passei por situações difíceis, mas prefiro não citar os nomes dos clubes envolvidos por uma questão ética. Este momento é complicado, eu via as contas chegando e não tinha como pagar. Quando ficava sem clube, tinha que contar com a ajuda da minha família para poder me manter. Acho que deveria haver punições mais severas para os clubes que não cumprem com os compromissos, nos deixam em situação complicada e até mesmo humilhante.
Você já pediu empréstimo para enfrentar os altos e baixos financeiros da carreira de um jogador de futebol? Como foi esta situação? Você se arrepende ou acredita que esta era a única saída?
FC - Já tive que pedir emprestado e contar com empréstimo de bancos que com juros altíssimos, o que nos suga muito. Mas, não tive outra escapatória e apelei para isso.
A sociedade, no geral, imagina que todo jogador de futebol tem carros, joias, mulheres e casas para exibir. Você concorda com essa visão? Já cometeu alguma loucura financeira para adquirir algo parecido, ou seja, gastou mais do que devia por um luxo? Se sim, conte-nos como foi esta situação.
FC - Na realidade, é a visão que a maioria tem e até eu tinha, mas não são todos os jogadores que ganham salários exorbitantes. Existem jogadores que ganham salários irrisórios e, às vezes, nem recebem remuneração, passando por dificuldades ao extremo. Muitas vezes, eles precisam tirar dinheiro do bolso para trabalhar e necessitam de ajuda de terceiros pra manter uma vida digna e saudável.
Você pensa ou pensou na sua aposentadoria? Se sim, como se preparou financeiramente para esta fase da sua vida? O que pretende fazer ou faz após a carreira de jogador de futebol?
FC - Eu já pensei e já tenho alguns projetos na área da música gospel. Já tenho dois cds gravados, onde levo a palavra de Deus através da música. Também criei a Associação Fabrício Carvalho (AFAC) com o objetivo de ajudar crianças carentes e famílias menos favorecidas, associada ao esporte.
Qual a sua opinião sobre um trabalho dentro dos clubes no sentido de orientar o jogador de futebol desde o início de sua carreira em relação a educação financeira? Você gostaria de ter tido esse tipo de orientação nos clubes por onde passou?
FC - Seria de suma importância porque ainda existem muitos jogadores mal instruídos financeiramente. Muitos deles não estudaram porque deixaram a escola para viver esse sonho e se perdem quando o assunto é educação e planejamento da vida financeira.
Fagner Nogueira Marques é sócio fundador da Nogueira Marques Consultores Associados e ministra palestras sobre educação financeira para empresas e atletas, principalmente, jogadores de futebol. É bacharel em Direito pela Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU, advogado regularmente inscrito nos quadros da OAB/SP, bacharel em Ciências Econômicas pela Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado – FECAP. Possui a certificação da Anbid CPA-20 e também a certificação de Agente Autônomo de Investimentos, concedida pela ANCORD e extensão em Psicologia Econômica pela USP (Fipecafi).