sexta-feira, 18 de setembro de 2015

CATEGORIAS DE BASE: A BASE PRA TUDO COMEÇA AQUI

Categorias de Base como Ferramenta para Montagem de Elencos

Todos os anos, em qualquer clube do futebol brasileiro que esteja passando por um período eleitoral, vemos promessas de adoção de modelos de gestão que dão ênfase as categorias de base.
“Criaremos condições aos atletas da base”,
“Adequaremos nossas instalações para que sejamos reconhecidos com um clube formador”
“Nossa categoria de base se tornará referência em formação”
Declarações como essas trazem esperanças aos sócios dos clubes e ao mercado como um todo. Qual sócio não gostaria de ver seu clube sendo realmente formador de talentos em escala?
Formar um atleta em condições de introdução em mercados com maior circulação de dinheiro do que o mercado em que o clube se encontra não é tarefa das mais complicadas.
Para que isso ocorra basta criar uma estrutura rasa que possibilite o jovem aprender, praticar e atuar por alguns anos até que desenvolva qualidades e condições favoráveis para integrar o elenco profissional, e regularizá-lo juridicamente perante a Federação Estadual e a Confederação Brasileira.
Sabemos que no Brasil existem clubes que não possuem condições de oferecer uma formação completa para os jovens jogadores e têm como estratégia desenvolver o máximo de um atleta até certo ponto suficiente para conseguir vendê-lo para algum mercado comprador.
A preocupação e a pressa em formar um jogador com as mínimas condições técnicas, físicas e táticas para ser usado como “cheque pagador” para os projetos do clube estão reduzindo a qualidade do nosso jovem atleta.
Uma formação de qualidade contempla primeiramente a avaliação do potencial futuro do jovem. Milhares de crianças desejam jogar futebol profissionalmente, mas a grande maioria talvez não tenha talento para isso e, se possuírem qualidades para tanto, talvez não resistam a algumas exigências que uma criança e adolescente é submetida no processo de formação até o nível profissional.
Identificado o talento em potencial, é necessário criar condições para que o jovem entusiasta do futebol se torne um profissional, fazendo com o que ele tenha diversas etapas de aprendizado assistidas por profissionais qualificados e preparados. Uma estrutura física capaz de impulsionar o desenvolvimento técnico do jovem, acompanhamento psicológico como um dos pontos chaves da formação e plano de carreira respeitando as necessidades do clube e as ambições profissionais do atleta.
O nível dessa formação de base é condição chave para definir o tipo de atleta que teremos no mercado do futebol. Não podemos considerar aqui aqueles profissionais que são exceções, ou seja, grandes talentos que chegaram a nível máximo de qualidade mesmo sem contar com estrutura de base adequada.
Os clubes que são destino dos atletas formados para o mercado são dos mais variados portes e condições financeiras, ou seja, são formados nas categorias de base jogadores para todos os níveis de clubes.
Tendo como base as declarações não tão hipotéticas referidas no começo do texto sobre a adoção de estratégias que fortaleçam as categorias de base dos clubes, fica a pergunta:
É importante para o sócio/torcedor de um clube formar um jogador e não ver esse jogador rendendo frutos dentro do campo para o clube?
O desafio de aproveitar o que é feito em casa.
Eu acredito firmemente que formar um jogador e vendê-lo sem o utilizar por tempo razoável e sem criar condições para que esse atleta possa ter papel preponderante em questão de resultado dentro do campo no futebol profissional, é importante apenas mercadologicamente e financeiramente, e mesmo assim apenas com benefícios nessa esfera em curto prazo.
Ser reconhecido como um clube com boas categorias de base é mais do que formar atletas para o mercado, o desafio é formar atletas para o próprio clube, é obter resultados através dos jovens.
Montagem de Elencos utilizando as Categorias de Base
É quase impossível um clube ter 100% de jogadores oriundos das suas categorias de base, o mercado de transações de jogadores está permanentemente em movimento e a rotatividade de atletas é alta, desse modo sempre vai haver necessidades de contratações de jogadores de outros clubes.
O que sugerirmos neste artigo é uma reflexão sobre a importância das categorias de base como ferramenta para montar elencos na categoria profissional.
Hoje, nas maiores ligas do mundo, temos clubes com folhas salariais girando em torno de 5 a 20 milhões de Euros mensais e sem a presença majoritária de atletas formados em casa.
Uma montagem de elenco deve começar pela análise do plantel de jogadores atual, profissional e aspirante. Ninguém mais capacitado para isso do que o corpo técnico e diretivo do clube. Identificadas as condições atuais do plantel, parte-se para a busca por jogadores dentro de um orçamento estabelecido que supram alguma eventual necessidade encontrada.
Jogadores advindos das categorias de base normalmente recebem menos do que um jogador vindo de outro clube, essa é a lei de mercado. Tirar uma pessoa de um posto de trabalho inevitavelmente requer um desembolso financeiro maior do que promover um funcionário internamente.
É nessa promoção que pode-se colher os frutos de um processo de formação de base adequada. Em qualquer empresa que adote as melhores práticas de gestão, vemos uma preocupação com o desenvolvimento interno.
Essa preocupação não é por capricho ou motivada por um sentimento puro de assistencialismo com o funcionário, ela vem da necessidade de redução de custos e da vontade de obter resultados iguais ou melhores com níveis menores de recursos.
Reter o funcionário qualificado é importante, porém, em caso de não êxito diante de uma vontade pessoal do funcionário de conquistar novos objetivos, a empresa deve ter “backup” em casa.
Pensando nas realidades dos clubes, a pergunta que fica é:
Será que não é possível obter resultados investindo menos em remunerações para atletas oriundos do mercado e contando com atletas formados no próprio clube?
Diante disso apresento uma lista de clubes que tiveram resultados favoráveis nas Liga dos Campeões da Europa e Copa Libertadores da América, aproveitamento jogadores das categorias de base.
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URUGUAI, PARAGUAI E ARGENTINA, ESPANHA E INGLATERRA
Clubes desses 5 países integram a lista dos 10 clubes que mais utilizaram jogadores formados nas categorias de base em títulos continentais.
Peñarol ocupa a primeira colocação no ranking. O clube de Montevideo formou e utilizou 51 atletas formados na base nos seus 5 títulos da Libertadores. Porém, nenhum título representa tão bem a trajetória formadora do Penarol como o da Liberadores de 1987. Um grupo de jogadores com 19 jovens advindos da categoria de base conquistou o 5º título da equipe uruguaia e entrou para a história como a equipe com mais jovens formados em casa campeão de uma competição continental europeia ou sul-americana. Os jovens do Peñarol conseguiram o título no 3º jogo final contra o América de Cali em Santiago do Chile no último minuto da prorrogação.
OLIMPIA DO PARAGUAI
Os paraguaios do Olimpia figuram como o segundo clube que mais jogadores da casa foram campeões do Continente, ao todos são 41 jogadores das categorias inferiores que participaram das conquistas dos 3 títulos da América.
Em 1990 venceram o Barcelona do Equador e conquistaram seu terceiro título com 17 jogadores vindos da base no grupo de jogadores.
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BOCA JUNIORS
Os torcedores do River Plate costumam afirmar que os torcedores do Boca Juniors não possuem nenhum ídolo formado nas “canteiras” do clube.
De fato, os maiores expoentes técnicos da história do clube vieram contratados de outros lugares: Martim Palermo, Riquelme, Maradona, Abbondanzieri, Guillermo Schelotto e alguns outros com papel preponderante nas glórias “xeneizes”.
O que faz o Boca Juniors ocupar a terceira colocação nesta lista com 36 jogadores formados na base é a política de futebol praticada nos anos 2000, período em que o clube venceu 4 das 6 libertadores que possui.
A equipe argentina possuía jogadores chaves vindos de outros clubes, porém, valorizava sua base, promovendo ao time titular jogadores de qualidade e recheando a suplência de jogadores oriundos das categorias inferiores.
Sebastián Battaglia, Clemente Rodríguez e Carlos Tévez.
Os 3 maiores jogadores formados na base e que foram campeões da América pelo Boca Juniors foram sem dúvida, o volante Sebastián Battagalia, detentor de 4 títulos. Jogador com maior número de conquistas na história da equipe, o lateral Clemente Rodríguez que conquistou 3 libertadores e o atacante Carlos Tévez, o de maior qualidade técnica produzido neste período.
Para completar o time das “canteiras xeneizes”, citamos Arruabarrena, atual treinador da equipe,  Fernando Gago, Burdisso, Anibal Matellán, José Calvo, Neri Cardozo, Ever Banega, Giménez, Marchant, Rojas, Moreno e Omar Pérez.
Essa base aliada a jogadores vindos de outros clubes como os goleiros Cordóba, Abbondanzieri e Caranta, os laterais Ibarra, Krupoviesa e Morel Rodríguez, os zagueiros Bermúdez, Samuel, Traverso, Schiavi e Cata Díaz, os volantes Serna e Cagna, os meio de campo Donnet, Basualdo, Ledesma, La Paglia, Vargas, Bilos, Frederico Insúa, Guglielminpietro e Riquelme, os atacantes Guillermo Schelotto, Marcelo Delgado, Rodrigo Palacio e Martim Palermo conquistou a hegemonia da América do Sul com as conquistas da libertadores de 2000, 2001, 2003 e 2007.

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Nacional, Independiente, Real Madrid, Estudiantes, Barcelona, River Plate e Manchester United completam a lista dos 10 clubes que mais utilizaram jogadores da base em títulos continentais.
A pesquisa realizada aqui serve para demonstrar que a utilização das categorias de base como ferramenta para montagem de elenco pode ser vantajosa dentro das quatro linhas, além de financeiramente rentável.
www.futebolplanejado.com

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