Não tem nada de romântica a permanência de Hernane no Flamengo. O coro da torcida foi lindo, mas nada significou. Ele só não foi embora porque os chineses não quiseram pagar à vista. Simples assim…
Foi tocante o coro da torcida do Flamengo.
Na importante vitória sobre o Emelec, o coro dominou o Maracanã.
"Fica, fica, fica..."
Os torcedores imploravam pela permanência de Hernane.
Ele agradecia, emocionado.
Quando marcou o seu gol, fez questão de beijar a camisa rubro negra.
"Nunca imaginei isso na minha vida.
A torcida do Flamengo me pedindo para não ir embora.
Ainda mais no Maracanã...
Parecia um sonho."
Foi assim que definiu a cena incrível que viveu ontem.
E com toda razão.
Há dois anos ele estava no Mogi Mirim.
Sem despertar a menor atenção da imprensa.
E mesmo dos grandes clubes paulistas.
Foi vice-artilheiro do Estadual, mas não houve empolgação.
Os treinadores e os dirigentes não levam a sério destaques no estadual.
Seu currículo não o recomendava.
Começou no Atibaia, não foi aproveitado pelo São Paulo.
Passou por Rio Preto, Toledo, Paulista até chegar no Mogi.
Primeiro o Flamengo o levou por empréstimo.
Depois como os gols vieram, o clube comprou 50% dos seus direitos.
O restante ficou dividido da seguinte forma.
35% para o empresário Paulo Pitombeira e 15% para a empresa Energy Sports.
2013 foi um ano fabuloso para o jogador.
Muito melhor do que até ele mesmo esperava.
Nunca atuou tão bem e nem marcou tanto.
Fez 36 gols e se transformou no artilheiro do Brasil.
Seu contrato é por objetivo.
E logo seu salário pulou de R$ 50 mil para R$ 150 mil.
A torcida se apaixonou pelo "Brocador", a imprensa carioca adora apelidos.
Seu estilo nunca foi refinado com a bola nos pés.
Muito pelo contrário, em várias jogadas é tosco.
Ele é o típico jogador do último toque.
Mas Hernane deixou no banco de reservas Marcelo Moreno.
Sem contestação.
O boliviano havia sido contratado para ser até estrela do time.
Só que o baiano de 1m84 e 27 anos não deixou.
Logo a diretoria flamenguista discutia muito sobre ele.
E se dividiu.
Uma ala insistente repetia que o melhor seria negociá-lo na 'alta'.
E poderia estar vivendo uma 'maré de sorte'.
Ele já tem uma idade avançada para os padrões do futebol moderno.
Clubes do Exterior costumam fazer suas apostas em atletas até 23 anos.
Para que, em caso de sucesso, repassá-los a um clube maior.
O Al Jazira dos Emirados Árabes surgiu com a proposta sonhada.
Seriam 6 milhões de euros, cerca de R$ 19,5 milhões.
Mas o detalhe.
O clube queria dividir o pagamento em seis vezes.
A direção exigia o dinheiro à vista.
O medo de calote é uma constante no futebol mundial.
Os árabes se dispuseram a pagar em três vezes de 2 milhões de euros.
Nada feito...
Houve um arrependimento de pelo menos metade da diretoria.
Eram insistentes as lamentações.
O medo de ser apenas atacante de uma temporada boa e nada mais.
Empresários continuaram buscando negócio para Hernane.
Foi quando apareceram os chineses do Shangai Shenshua.
A proposta era de 3,5 milhões de euros, cerca de R$ 11,2 milhões.
Outra vez muita discussão na Gávea.
O clube continua precisando muito de dinheiro.
A diretoria espera arrecadar R$ 350 milhões este ano.
O acordo com o consórcio Novo Maracanã, o projeto dos sócios-torcedores...
E principalmente o dinheiro dos patrocinadores seria fundamental até chegar a este valor.
Mas o clube se prepara para pagar pelo menos R$ 100 milhões das dívidas acumuladas.
Quando essa diretoria assumiu, elas atingiam R$ 750 milhões.
A meta é chegar no final de 2015 devendo R$ 400 milhões.
Para isso, qualquer bom negócio é bem vindo.
Os chineses ofereciam salário de R$ 425 mil ao atacante.
O empresário Pitombeira, ficou empolgado.
O contrato era de três anos.
Só que ao ser revelada a proposta, a imprensa carioca pressionou.
Exigia sua permanência no clube.
Como o Flamengo abriria mão de seu artilheiro na Libertadores?
E até parte dela defendia sua convocação para a Seleção Brasileira.
Houve uma comoção na torcida.
O atacante continuava a marcar gols.
Mesmo assim, não importava.
A diretoria flamenguista queria o dinheiro.
Enquanto acontecia a partida de ontem contra o Emelec, reuniões se sucediam.
Os chineses sabiam.
Os dirigentes cariocas haviam avisado.
Queriam o dinheiro à vista.
Mesmo assim eles tentavam parcelar.
Como última tentativa, pediram o prazo de sete dias.
Mas precisavam da documentação do jogador para registro na China.
E imediatamente.
A janela iria se fechar.
Foi quando a ala que defendia o atleta na Gávea se fez ouvir.
O combinado entre eles é que grande transação exige dinheiro à vista.
A direção do Shangai Shenhua negociava um plano B.
Se preparou para a negativa do Flamengo.
E não perdeu tempo, comprou o colombiano Luis Carlos Ruiz, do Junior Barranquilla.
Pagará US$ 4 milhões, cerca de R$ 9,4 milhões, parcelados.
Seria muito romântico dizer que foi o coro dos flamenguistas.
Que a diretoria ficou tocada e desistiu do negócio.
Segurou Hernane pela maior torcida do Brasil.
A verdade é que ele não foi para a China por medo de calote.
Hernane ficou feliz com a decisão.
E que sua meta agora é lutar pela remota chance de ainda estar na Copa.
Ser a surpresa de Felipão na convocação do Mundial.
Ninguém tem o direito de o impedir de sonhar.
O cenário de ontem no Maracanã foi a maior prova.
A torcida do Flamengo cantando em coro que fique na Gávea.
Se no Mogi em 2012 tivesse a coragem de dizer que isso aconteceria...
Não haveria dúvidas.
Seria chamado de louco.
Quem tem coragem de chamar Hernane de louco por sonhar com Seleção?
Por via das dúvidas, a diretoria aceita qualquer consulta por ele.
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