Por: Cosme Rímoli - Portal R7
“Avisei ao time: três pênaltis não entrariam. Foi o que aconteceu. Hoje minhas lágrimas são de alegria e não de tristeza como na África.” Júlio César, o responsável pela sobrevivência na Copa…
Belo Horizonte...
Júlio César é um jogador marcado. A falha nas quartas de final na África, contra a Holanda, está cicatrizada na sua testa. Pelos menos é como ele se sente. Toda vez que vê um jornalista, ele se arma. Teme que o assunto seja de novo resgatado.
Mano Menezes não o queria na sua Seleção. Queria expurgar o estigma da derrota que Júlio César carrega. O jogador foi o melhor goleiro do mundo em 2009. Quatro anos depois atua na fraquíssima liga norte-americano. Tem seus direitos ligados a um time medíocre inglês.
Sabe que tem a sorte de ter ganho a confiança de Luiz Felipe Scolari. O treinador recebeu todo tipo de cobranças e críticas por tê-lo escolhido como goleiro titular do Brasil na Copa das Confederações.
Retribui foi o melhor arqueiro da competição. Foi mantido para a disputa da Copa do Mundo. Nunca um jogador atuando no Canadá virou titular da Seleção Brasileira.
Chegou de novo devedor na Copa do Mundo. E hoje, quando a partida ficou para ser decidida nas penalidades, sabia que era hora de pagar seu débito. Enterrar aquela saída desastrosa contra a Holanda.
O cenário era um filme sem imaginação. O Brasil empatando com um adversário sem tradição. Decidiria nos pênaltis sua sorte na Copa do Mundo. Júlio César percebeu que o momento era dele. O goleiro de 35 anos agiu.
"Eu avisei os cobradores. Falei para todos se concentrarem nas suas cobranças. Porque eu defenderia pelo menos três pênaltis. Eu tinha certeza que três bolas não entrariam. Defendi de verdade duas e uma foi na trave. Depois, quando nós nos classificamos, não aguentei. Lembrei de tudo o que passei na África. E o quanto eu chorei de tristeza com a eliminação. Desabei de novo. Desta vez o choro foi da mais pura alegria."
"Júlio garantiu isso mesmo. Falou que três pênaltis não entrariam no nosso gol. Nossos cobradores foram mais confiantes. Foi importantíssimo tudo o que aconteceu hoje. Saímos mais fortes para o restante da Copa. Graças ao Júlio", admite Thiago Silva.
Júlio César ganhou um longo e demorado abraço de Felipão. Enquanto o treinador mostrava sua alegria, o goleiro agradeceu pela chance de redenção que o treinador lhe proporcionou.
"Quando todos duvidavam de mim, o Felipão continuou firme. Sua confiança é responsável pelo que aconteceu hoje. Ele é uma pessoa especial demais na minha carreira. Ele e esse grupo maravilhoso que tenho a sorte de fazer parte."
"O Júlio César foi crucificado de maneira injusta na última Copa. O time perdeu a partida. Não era justo que ele passe para a história como o único responsável pelo que aconteceu. Ele merecia ser o responsável pela sobrevivência do Brasil na Copa. Estamos felizes demais por ele. O Júlio é um melhores goleiros do mundo e a gente não valoriza", disse Thiago Silva.
A palavra que resumia a partida para Júlio César era uma só: redenção.
"Só Deus e minha família sabem o que eu passei e passo até hoje, mas sei que minha história na Seleção não acabou. Meus companheiros estão me dando muita força para chegar dentro de campo e dar o meu melhor. Faltam três degraus, e ainda espero dar outra entrevista com o Brasil em festa."
Júlio sabe o quanto a Seleção foi mal. E mais. A enorme chance que teve de ser eliminada da Copa hoje. Mas evitou criticar a postura do time. Ainda mais jogadores que o consideram como mentor. E fazem da obrigação de ser campeão do mundo uma obrigação a mais por ele.
Mas o apoio também se estende à torcida. Seu nome foi muito gritado antes da partida.
"Preciso agradecer ao público que compareceu, aos meus companheiros. É complicado emocionalmente e psicologicamente, por que representar nosso país jogando em casa é uma pressão muito forte, mas graças a Deus deu certo no final."
Júlio César não queria ficar muito tempo na zona mista dando entrevista. Ele queria ir embora levando o troféu de 'homem do jogo'. Entregar para sua família. E comemorar outro dia inesquecível na sua vida. E também proporcionado pela Copa do Mundo. Pela Seleção Brasileira. Só que desta vez de enorme alegria.
Em vez do gosto amargo de ser considerado o vilão, hoje aproveitava o quanto eram doces as lágrimas por ser o herói que manteve o Brasil vivo na Copa do Mundo...
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