Fracasso na greve do Corinthians travou Bom Senso FC. Os líderes foram cuidar cada um de sua vida. CBF e Globo mantiveram tudo igual. Mudanças só acontecerão se houver um fracasso da Seleção na Copa do Mundo…30 Comentários
Seedorf foi para a Itália, virou técnico do Milan.
Juninho Pernambucano se aposentou.
Paulo André acabou no futebol chinês.
Rogério Ceni resolveu se calar.
Assim como Juan, Dida, Fernando Prass.
E Alex?
O criador do movimento também se retraiu.
Se mostra mais preocupado com o Coritiba e sua milésima partida pelo clube.
O que aconteceu?
A situação do jogador de futebol no país segue lamentável.
Dos 684 clubes profissionais, 583 não atuam o ano todo.
Cerca de 85% das equipes só disputam campeonatos por seis meses.
Dos vinte mil atletas profissionais do país, 80% recebem até dois salários mínimos.
E ficam desempregados por seis meses.
As dívidas dos clubes cresceram 74% nos últimos cinco anos.
A situação continua a beira de um colapso.
O Brasil tem apenas a 18ª média de torcedores nos estádios no mundo.
Ou seja, nada mudou.
Mas o movimento encolheu.
A invasão de vândalos ao Corinthians atingiu em cheio o movimento.
Mostrou que os jogadores não são tão unidos assim.
Pouco importou que corintianos pegaram Guerrero pelo pescoço.
Ameaçaram Sheik e Alexandre Pato.
Fizeram os jogadores se esconderem nos vestiários.
E colocarem armários como barricadas.
Muito temeram não só apanhar, mas morrer nas mãos dos vândalos.
Eles eram mais de cem.
Após Mano Menezes e os dirigentes conversarem e implorarem calma eles se foram.
Naquele mesmo sábado, Paulo André comandou uma reunião com os jogadores.
A maioria não queria enfrentar a Ponte Preta no domingo.
Maioria, não foi unanimidade.
Mesmo assim, o então capitão do time procurou Mario Gobbi.
Disse que o time não entraria em campo.
Gobbi foi claro, a FPF e a Globo queriam a partida de qualquer maneira.
Diante da veemência da diretoria, os atletas recuaram.
E disseram que entrariam em campo.
A essa altura jogadores de outros clubes prestavam solidariedade.
Confirmavam que todos precisavam dar uma resposta.
E se espalhou o boato de greve na semana seguinte.
O Campeonato Paulista daria o exemplo para o Brasil.
Houve uma expectativa generalizada.
De imprensa, torcida.
O Sindicato dos Atletas Profissionais de São Paulo entrou em cena.
E quis comandar o movimento.
Muitos líderes do Bom Senso não levam em consideração os sindicatos.
Consideram que nada fizeram por décadas pelo futebol.
E nunca questionaram o excesso de jogo e os calotes dos clubes nos atletas.
A cúpula do Bom Senso titubeou.
Se desentendeu.
A maior prova foi a declaração de Rogério Ceni.
Perguntado sobre a greve em favor do Corinthians, o goleiro mostrou sua contrariedade.
A raiva pelas dissidências, pela falta de união dos corintianos.
"O que aconteceu foi terrível, mas temos que analisar todas as posições. Teve um atleta do próprio Corinthians que disse que não sabia nem o porquê de se fazer a greve. Se alguém que foi agredido responde isso, os atletas dos outros clubes também encontram dificuldade em entender."
Ele se referia a Emerson.
Caçado pelos vândalos, escapou por sorte da invasão.
Mesmo assim, suas declarações foram contraditórias.
Motivadas, talvez, pelo medo dos membros das organizadas.
Eles já lhe deram 'uma dura' quando deu um beijo na boca de um amigo.
"Preciso entender o porquê da greve.
Não estou dentro nem fora, quero entender para poder me manifestar."
Um bando de vândalos gritando ameaças e o procurando no CT não bastou.
A postura de Sheik frustrou os líderes do Bom Senso.
Viram que a greve seria inviável.
Enquanto isso os presidentes dos clubes do interior paulista foram claro.
Ameaçaram de demissão quem aderisse ao movimento.
A notícia se espalhou, os times pequenos não iriam parar.
Logo atletas do Palmeiras, Santos, São Paulo e Corinthians avisaram.
Iriam cumprir sua obrigação e jogar.
Adeus paralisação.
Embora o Sindicato dos Atletas de São Paulo estivesse à frente do movimento...
A culpa recaiu sobre o Bom Senso.
O desgaste foi nacional.
Logo em seguida, Paulo André decidiu ir jogar na China.
Percebeu o quanto a diretoria corintiana queria se livrar dele.
Disse que iria continuar tratando das coisas do BSFC nas redes sociais.
Mesma promessa de Seedorf e Juninho Pernambucano.
A verdade é que cada líder está cuidando da sua carreira.
Sentiram o quanto o movimento foi afetado com o fracasso da greve paulista.
"Pergunto porque o Rogério, o Dida, o Alex não foram reclamar lá atrás? Foram reclamar agora, com 39 anos, parando. Daqui a dois anos não estarão mais jogando. Falar agora é fácil.
"No Audax, ninguém tem contrato de três anos, é de quatro meses. Isso acontece com todos os clubes menores. A não ser os meninos da base, com quem fazemos um contrato mais longo. Ninguém ganha mais de R$ 1 mil. Por isso que eu discordo muito do Bom Senso.
"Tem Dida, Alex, Seedorf voltou para a Itália, Ceni, Paulo André. Todos são ricos, ganham muito bem. E os demais, que jogam nas divisões menores e em clubes pequenos? Pego meus R$ 500 mil e quero 60 dias de férias? Isso eu discordo..."
"Esse movimento não vai dar em nada."
As frases foram de Vampeta, ex-jogador e agora presidente do Audax.
A CBF não cedeu em nada ao movimento.
José Maria Marin conversou com os líderes dos jogadores.
Os enrolou, nada prometeu e nada deu.
A sensação de derrota não é segredo para ninguém.
A hora de pressionar o status quo do futebol brasileiro passou.
Cada um cuida de si.
Vamos comemorar o milésimo jogo de Alex no Coritiba.
Torcer para Juninho Pernambucano virar comentarista.
Seedorf conseguir travar a decadência do Milan.
Ceni fazer o São Paulo jogar ao lado de Pato.
Juan acertar a defesa do Internacional.
A hora é de trocar mensagens no celular.
O mais irônico é que o sonho de mudanças no futebol depende de um pesadelo.
Só um vexame imenso do Brasil na Copa do Mundo pode abalar Marin.
Os excessos de jogos se tornará um fardo para a Globo.
Se isso não acontecer, tudo continuará como está.
Com a vitória de quem mantem o futebol deste país atrasado.
Submetido a um calendário vergonhoso.
E com atletas desempregados e colecionando calotes.
O fracasso da greve paulista tem enorme culpa.
Mas a falta de união entre os atletas foi a grande sabotadora.
Cúmplice da vitória de Marin...
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