Publicado em 26/03/2014 às 11h27
Se Carlos Miguel vencer no São Paulo será guerra contra o ‘novo rico’ Corinthians e seu Itaquerão. Será sangrento o confronto. De um lado Aidar, Marin e Marco Polo, CBF e FPF. Do outro, o deputado federal Andrés, Lula e o PT…
Não é sutil como o presidente da Santa Casa.
Aprendeu com o pai, o ex-presidente do São Paulo, Henri Aidar.
Foram seis anos observando, de 72 a 78.
O clube se impunha como o mais moderno do Brasil.
Acompanhou o Morumbi receber enxurradas de dinheiro.
Eram comuns jogos para mais de cem mil pessoas.
Muitas vezes em partidas dos adversários.
Como quando o Corinthians quebrou o jejum de 23 anos sem títulos.
Em 1977.
Aprendeu desde moleque que o time de branco e preto era o que deveria ser batido.
Na época, o São Paulo era exemplo de modernidade.
Com o maior estádio particular do mundo.
Os corintianos, mais populares, representavam o atraso.
Pessimamente administrados, com seu acanhado Parque São Jorge.
Davam de bandeja dinheiro mandando as partidas mais importantes no Morumbi.
Isso perdurou até quando foi presidente do São Paulo.
Aliá, o mais jovem, assumiu com 37 anos.
Ficou dois mandatos, entre 1984 e 1988.
Foi Carlos Miguel que tirou o futebol do Morumbi.
Levou para o revolucionário CCT da Barra Funda.
Onde, como na Europa, os jogadores teriam vários campos de treinamentos.
Enquanto isso, os rivais treinavam no Parque São Jorge.
E jogavam contra pequenos e médios no Pacaembu.
Continuavam pagando aluguel no Morumbi.
Foi assim que Carlos Miguel passou o poder para Juvenal Juvêncio.
Assumiu a presidência do Conselho Deliberativo do clube.
Os dois são aliados e seguem pela mesma cartilha.
São elitistas e defendem a primazia do São Paulo no Brasil.
Apesar de décadas comandando um escritório de advocacia, o gênio não mudou.
Pelo contrário.
Carlos Miguel é mais radical do que o espalhafatoso Juvenal.
Na briga para voltar a comandar o São Paulo tem repetido.
Sócios e conselheiros já entenderam.
Além da modernização do Morumbi, o candidato escolheu outro alvo.
Fazer o clube dominar o cenário paulista e brasileiro.
Não foi por acaso que resolveu defender a CBF contra a Portuguesa.
E acabou cassando todas as liminares de torcedores na Justiça Comum.
Possibilitou a divulgação das tabelas dos Brasileiros da Série A e B.
Neles, está a Lusa na Segunda Divisão.
Fluminense e Flamengo na Primeira.
Fez muito bem o serviço para José Maria Marin.
E Marco Polo del Nero, seu sucessor.
Ganhou crédito importantíssimo junto à CBF.
Ter Marin e Marco Polo como aliados não tem preço no quadro atual.
Os dois têm como inimigo mortal, Andrés Sanchez.
Carlos Miguel já comprou a briga.
Sabe que foi ele quem articulou com Ricardo Teixeira e Lula.
E tiraram a abertura da Copa do Morumbi.
Como mera compensação, o CT de Cotia será alugado à Colômbia.
E o São Paulo receberá R$ 2 milhões.
Enquanto o rival conseguiu facilidades para construir seu estádio.
Orçado em mais de R$ 1 bilhão...
Ao contrário de Juvenal Juvêncio, ele não se conforma.
Assim como também o incomoda a modernização do 'primo pobre'.
Se esquece da conveniente ajuda do governador Laudo Natel ao Morumbi.
Se eleito, enfrentar o Corinthians dominado por Andrés será sua obsessão.
Por isso os ataques não param.
Quando Andrés questionou as promoções que o São Paulo fez no ano passado.
Ameaçado pelo rebaixamento no Brasileiro, abaixou o preço dos ingressos.
E foi cobrado pelo corintiano por desvalorizar o futebol.
"Como a gente costuma dizer, acredito que o Andrés perdeu uma grande oportunidade de ficar calado. Ele tem a obra do Itaquerão para cuidar e ele deveria ficar preocupado com a conta que o Corinthians vai ter que pagar. É um ex-presidente e praticamente mestre de obras de estádio."
A eleição no São Paulo entrou na reta decisiva.
A disputa com Kalil está acirrada.
Carlos Miguel voltou à carga.
Sabe o que os eleitores no Morumbi querem.
Que o novo presidente tenha coragem de enfrentar o Corinthians.
Retomar a primazia do futebol paulista.
E o candidato decidiu bater forte no rival.
A começar como conseguiu o Itaquerão.
"Havia uma determinação do presidente da República para uma construtora fazer um estádio novo. E ele não torce para o São Paulo, ele torce para o Corinthians. E mandou fazer. A construtora disse sim, senhor, e fez o estádio. Está lá. Cheio de problemas. O Corinthians não é o dono do estádio, é da construtora. Ele nunca vai conseguir pagar aquele dinheiro. O estádio não está pronto, tem arquibancadas alugadas, provisórias, a Fifa está criticando, é o estádio mais crítico da Copa do Mundo, mas está lá, feito pela Odebrecht."
Revelou para a ESPN temer a concorrência do novo Palestra Itália.
Mas para os shows.
Desdenha do estádio corintiano.
"O Itaquerão não vai ter show.
Aquilo é outro mundo, é outro país, não dá para chegar lá."
Carlos Miguel faz o discurso que o eleitorado quer ouvir.
Kalil se mostra mais preocupado com o estádio.
Com obras no clube.
Talvez seja até mais importante para o sócio do São Paulo.
Mas não tem o mesmo impacto, principalmente na mídia.
Só que não é mero discurso.
Carlos Miguel vai de verdade comprar briga com o Corinthians.
Principalmente se Andrés fizer o sucessor de Mario Gobbi.
O filho de Henri Aidar representa a ala que marcou seu pai.
Quando os 'cardeais' dominavam o futebol paulista.
E não admitiam contestação.
Principalmente vinda do Parque São Jorge.
Por coincidência, o grupo de Andrés Sanches tem um apelido.
Dado pelo grupo do ex-vice de futebol, Antônio Citadini.
É chamado até hoje de 'baixo clero'.
Se Carlos Miguel vencer, o confronto virá.
Com a CBF politicamente tendendo para o Morumbi.
Assim como a Federação Paulista.
Ele, Marin e Marco Polo sabem que Andrés será candidato a deputado federal.
Pelo PT, partido do presidente Lula.
Se Dilma conseguir a reeleição, a guerra será sangrenta.
"Minha relação com os presidentes dos clubes vai ser bem assim. Quando a bola rolar vou querer matar, com requintes de crueldade, mas depois eu quero abraçar e discutir interesses comuns."
Era assim que o São Paulo se comportava nos tempos de Henri Aidar.
Quando o Corinthians era o retrato do atraso.
Apenas o 'primo pobre'.
A situação mudou.
Hoje a ala elitista no Morumbi vê o rival como 'novo rico'.
A declaração de guerra já está feita.
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