quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

MENINOS DA VILA: A JOIA DA DIREÇÃO SANTISTA

Ciência, boa estrutura e planejamento: 





pilares do sucesso da base do Santos

Departamento amador do clube conta com estrutura profissional para formar atletas prontos para serem utilizados pelo técnico Oswaldo de Oliveira no time principal

O Santos chegou a três finais de Copa São Paulo de Futebol Júnior nos últimos cinco anos e conquistou dois títulos. Há muito mais tempo, porém, o time da Vila Belmiro é mundialmente conhecido por revelar ídolos formados em suas próprias categorias de base: Pelé, Pepe, Coutinho, Diego, Robinho, Neymar... Mas qual é o segredo do sucesso? O GloboEsporte.com entrevistou diversos membros do departamento amador do Peixe e descobriu quais são os pilares dos bons resultados: ciência, boa estrutura e planejamento.

O departamento amador do clube conta com cinco categorias (sub-11, sub-13, sub-15, sub -17 e sub-20). Para dar suporte aos cerca de 150 atletas, há uma assistente social, um psicólogo, três fisioterapeutas, diversos preparadores físicos, um fisiologista e avaliadores, que captam promessas para o Alvinegro.
Atualmente, a captação de atletas não funciona como antigamente, com as tradicionais "peneiras". Com a chegada da nova gerência do departamento amador, há profissionais que recebem lances e indicações de jovens de 11 a 20 anos, avaliam os vídeos e chamam alguns garotos para testes. Há, também, franquias da escola Meninos da Vila espalhada pelo país para a captação de talentos.
Sub-20 Santos (Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo / Santos FC)Sub-20 do Santos comemora título da Copinha contra o Corinthians (Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo / Santos FC)
CIÊNCIA
O trabalho de “preparação de um craque” se inicia assim que o garoto chega à Vila Belmiro. Para que os técnicos saibam quais jogadores têm mais condições de, no futuro, se tornarem bons “frutos” para o clube, o fisiologista da base, Gustavo Jorge, avalia, um a um, para descobrir a maturidade física deles.
Preparadores físicos Santos (Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo / Santos FC)Gustavo, Marcelo (auxiliar de preparação) e Sérgio (Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo / Santos FC)
– A gente privilegia os jogadores maturados tardios, ou seja, um jogador que, por exemplo, tem 13 anos, mas com idade biológica de menos. O Neymar é um exemplo de maturado tardio. Ele se desenvolveu no time principal – diz o fisiologista, que também explica os detalhes do processo de maturação dos atletas.
– O maturado tardio tem mais tempo nas questões cognitivas, psicossomáticas e fisiológicas para adquirir informações e formar uma aprendizagem a longo período. O que é maturado muito cedo tem menos tempo de aprendizagem, porque ele já vai estar formado – explica Gustavo Jorge.
ESTRUTURA
Não basta identificar a maturação dos jogadores, é preciso realizar um trabalho maior, que vai de estrutura a planejamento de treinos. Além dos alojamentos na Vila Belmiro, que contam com cerca de 70 hospedados, os garotos têm três campos para treinamentos – um no CT Rei Pelé e dois no Meninos da Vila – e uma academia. Isso tudo, porém, ainda não é o suficiente, segundo o gerente do departamento de base do Alvinegro, Hugo D’Elia Machado.
A estrutura no CT Meninos da Vila é boa, mas precisa de reparos. Um dos campos é sintético e o outro, natural. Ao lado dos gramados há entulhos. A ideia da diretoria é, já nos próximos anos, ter um novo espaço para os garotos, unindo academia, centro de treinamento, refeitório e alojamento.
CT Meninos da Vila Santos (Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo / Santos FC)CT Meninos da Vila recebe atletas das cinco categorias de base (Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo / Santos FC)

Além da distância entre as "bases" do clube, o espaço para os atletas se hospedarem não é o suficiente. Por isso, há pensões nos arredores da Vila Belmiro. Esses locais recebem talentos que chegam à cidade de Santos sem uma casa para ficar. Há, também, famílias de jogadores que recebem os garotos. A família de Neymar, por exemplo, abrigou o volante Joclécio, contemporâneo do hoje craque do Barcelona na época da base santista.
– No dia em que o Santos tiver esse novo CT, vai crescer ainda mais na base. Se nós tivermos um espaço com toda nossa estrutura junta, vamos ter um ganho muito grande. A diretoria trabalha em cima disso e acreditamos que em um curto espaço de tempo isso vai ser realizado – diz Hugo.
PLANEJAMENTO
Todo esse trabalho de preparação visando o crescimento do atleta é iniciado já na categoria sub-11, com treinos mais lúdicos. Com o aumento da categoria, aumenta-se também a carga de atividades. Essa filosofia de trabalho tem dado resultados. Nos últimos cinco anos, foram três finais de Copa São Paulo. O preparador físico Sérgio Peres, que está no clube desde 2003, enaltece o crescimento do departamento de base santista nestes 11 anos, com aumento de tecnologia, principalmente.
– Muita coisa mudou. Estrutura, espaço, campos. Mas não tem como não falar da tecnologia. Cresceu muito, com a ajuda da ciência, nestes anos – diz.
Stéfano Yuri Santos (Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo / Santos FC)Stéfano Yuri, na preparação para a Copinha
(Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo / Santos FC)
Baseada na ciência e no avanço tecnológico do Santos, a preparação física que resultou na campanha com oito jogos e oito vitórias e no título da Copinha deste ano foi especial. No fim de 2013, o Peixe conciliava duas fases de mata-mata em competições diferentes: na Copa do Brasil e no Campeonato Paulista, ambas sub-20. No estadual, os santistas foram eliminados nas quartas. Já no nacional o time do técnico Pepinho Macia chegou ao título após vencer o Criciúma na decisão.
Depois da conquista, se reuniram Pepinho, Hugo D’Elia Machado, Gustavo Jorge, Sérgio Peres e os demais membros da comissão, como médicos e supervisores. E eles decidiram que não levariam o a equipe que disputaria a Copa SP mais tarde para o Campeonato Brasileiro sub-20, em Porto Alegre.
– Demos folga de dez dias logo após a Copa do Brasil. Retornamos aos treinos no dia 2 de dezembro. Tivemos exatamente cinco semanas de treinamentos até a Copinha. Nas três primeiras, demos muita base e muito trabalho, volume, velocidade, trabalhos específicos de resistência, potência e força para dar um preparo bom aos atletas. A partir da terceira semana diminuímos o volume. Depois do início da competição, só mantivemos o preparo, porque foram muitos jogos em pouco tempo – explica Sérgio Peres. 
OPORTUNIDADE
O técnico Pepinho Macia crê que o segredo santista para tantos títulos seja as oportunidades que os atletas formados na base têm no time de cima. Segundo o treinador do sub-20, muitos garotos têm propostas de outras equipes, mas optam por ficar no Peixe. O atacante Jorge Eduardo, por exemplo, tinha uma proposta de um grande clube brasileiro – não revelado por Pepinho –, mas escolheu a Vila Belmiro.
– Ele tinha uma proposta superior. Ele era do Audax, mas foi desligado e nós tínhamos interesse nele. Só que ele tinha uma proposta muito superior em mãos, mas ele reclinou e escolheu receber bem menos, mas sabendo que em um futuro próximo poderá ganhar bem mais – afirma.
Jorge Eduardo Santos (Foto: Ivan Storti / Divulgação Santos FC)Jorge Eduardo tinha proposta boa para sair, mas preferiu ficar no Santos (Foto: Ivan Storti / Divulgação Santos FC)

E o resultado não está apenas representado pelos troféus nas estantes da Vila Belmiro. Após o título da Copa São Paulo, os 11 titulares foram promovidos ao elenco profissional do Santos pelo técnico Oswaldo de Oliveira. 
Mas chegar ao profissional não significa que o garoto não atuará mais pelo time sub-20. Essa, inclusive, é uma das teclas mais batidas pelas atuais comissões técnicas, tanto da base quanto do time principal. – A saúde financeira do clube é a base. Se você tem uma base forte, como temos, não tem necessidade de comprar jogadores. O Santos fez ótimas contratações pontuais, porque a estrutura que tem já é muito boa. Essa é a função da base. Nós temos que estimular o espírito vencedor nos garotos – diz Hugo.
– A base aqui é constantemente avaliada, valorizada, e os resultados estão aí. A gente sabe que subiram 11, todos estão treinando, é lógico que alguns vão ter mais oportunidades, mas o Oswaldo já conversou e avisou que o menino não deve ficar lá apenas treinando. Ele precisa ter quatro mil minutos de jogos por ano e por isso vai descer para jogar na base – explica o gerente
.

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