Era o craque. O futuro melhor do mundo. O menino que arrebataria corações apaixonados por futebol. O homem que pararia batalhas, que meninos de Gana usariam a camisa. Seria o craque que a Ásia idolatraria como só ela sabe: com respeito e carinho. Abriria caminhos no mundo todo, seria o rosto do planeta, seria o maior da sua geração, seria o maior de todos.
A estreia mágica. Primeiro toque na bola da vida profissional se tornava um gol. Ele destroçava um grande time fora de casa. Ele estava sendo guardado como diamante: “deixem-o quieto” bradou o dirigente preocupado com os euros que viriam de todos os cantos. Surgia o novo craque do futebol brasileiro. Surgia o novo modelo da fábrica de craques mais incessante da Terra.
Foram sete meses da estreia à venda obrigatória. Um clube muito rico pagou a multa e levou. Na capa do jornal do outro dia diretores italianos sorriam. Os brasileiros mostravam beiços emburrados. O capitalismo garimpava o novo craque. Europa, Milão, o mundo. O sonho de menino realizado. Dos olhos do sul do brasil aos olhos do mundo. A vida estava feita, resolvida, estava realizada. Bastava suar a camisa.
Bastava. Mas suar é para os fortes. Suar é para os humildes, para os grandes. Suar é uma arte em que não só o corpo participa. O cérebro é essencial. Suar com o cérebro. Era isso que ele precisava. Mas veio a vida. Vieram as moças bonitas. Vieram os perfumes lindos exalados de corpos bem cuidados, o encanto feminino. Vieram os sopros de muitas mulheres. E ele se jogou aos prazeres maiores.
Junto veio a grana. Grossa. Grandes empresas, grandes campanhas de marketing, grandes sacadas no YouTube. O futuro craque, na publicidade, já era Pelé. Melhor: já era Beckham. Já era um campeão. A telinha do YouTube nos mostrava a magia acontecendo. Mas era de mentira. Era mentira. A modelagem não era. A barba por fazer, os cabelos revoltos, a beleza de um homem. O crescimento dos músculos era acompanhado por lentes que congelavam um futuro Deus da bola. Era muita beleza. Era muita pose. Eram muitos paparazzis.
Mas e o suor? Amamos o futebol, também, porque ele é coletivo. Emociona ver um grupo forte. Choramos ao ver raça, entrega de homens agregados, imbuídos, juntos. São onze por milhões. É a metáfora das nossas alegrias e tristezas. Um time quando quer é a válvula de escape de uma vida dura. E aquele menino seria exemplo para todos. Seria a nossa metáfora. Porque além da gana, o futebol é, também, uma arte. O drible, o chute belo, o belo drible e o encantamento. O “ohhhhhh”da torcida, o aplauso. A glória, enfim. À glória!
Mas não há erros na vida pessoal. Mulheres, publicidades, dinheiros e passarelas são conquistas pessoais. São capacidades enormes, é talento puro, nato. E isso está tudo certo, correto, ético. O que está errado é que perdemos o menino. Perdemos o suor. Perdemos a arte. Destino não existe sem raça. Destino é para os fortes. Destino é para quem não acredita nele. Destino se conquista com dor. E suor. Com foco.
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