Jean Chera acaba de ser dispensado do Cruzeiro.
O clube não o quis utilizar nem na Copa São Paulo.
Nem como reserva.
A diretoria abriu mão do jogador de 18 anos sem drama na consciência.
Santos, Genoa, Flamengo e Atlético Paranaense fizeram a mesma coisa.
A avaliação foi no igual caminho.
Os dirigentes acreditam que ele foi mimado demais na adolescência.
Seu talento fora do comum na meninice acabou por contaminar seu maior incentivador.
A empolgação do pai, Celso Chera, é acusada de ter atrapalhado o filho.
Jean foi descoberto no Mato Grosso.
Seu talento com a bola na perna esquerda era impressionante.
Lembrava muito Messi quando era menino.
Logo foi levado para o Santos.
Os sonhos eram imensos.
Seria o novo substituto de Diego, de Ganso, de Neymar.
A assessoria do clube também tratou de espalhar a notícia.
Enviava às televisões vídeos do menino barbarizando no Mato Grosso.
Encantados, repórteres faziam fila na Vila Belmiro para entrevistá-lo.
Ele tinha um tratamento de rei.
Antes mesmo de virar profissional, recebia R$ 25 mil mensais.
Aluguel e escola particular pagos pelo clube.
Tietes o perseguiam.
Cansou de fazer matérias para revistas e jornais.
Todos tinham certeza que estavam em contato com um novo fenômeno.
Tanto que, segundo seu pai e empresário, ofertas não faltavam.
Clubes da Inglaterra, Itália, Espanha e Holanda sonhavam com Chera.
E ele se comportava como jogador especial.
Não se importava de esquecer da modéstia.
Falava abertamente em disputar a Copa do Mundo de 2014, com 18 anos.
A Umbro até personificou a chuteira que usava, com seu nome.
Mal sabia ele tudo que enfrentaria nos três anos seguintes.
Na Vila Belmiro, a badalação lhe teria feito muito mal.
Ele se limitava a querer a bola nos pés.
Deixou de ser um jogador participativo.
Seu rendimento físico era abaixo do exigido.
Jogadores menos talentosos porém mais bem preparados o anulavam.
A situação logo chamou a atenção da direção do clube.
Justo na época mais delicada.
A assinatura do primeiro contrato.
Jean Chera chegava a ter tanta atenção quanto Neymar.
Mas ao contrário do então companheiro, seu futebol ia caindo ao subir de categoria.
Ao chegar ao sub-17 do Santos foi para a reserva.
Seu pai ficou revoltado.
Não aceitava as explicações de que era um período de adaptação.
Chegou até a tirar o filho de uma partida ao vê-lo no banco.
Os dirigentes santistas chegaram a proibir que acompanhasse jogos do filho.
Revoltado, Celso discutiu, reclamou de perseguição ao filho.
Os treinadores se defendiam.
Diziam que Jean os deixavam de obedecer ao ver o pai.
Parava de correr e exigia a bola no pé, por ser o 'craque do time'.
Aí veio a conversa sobre o primeiro contrato profissional.
Segundo o Santos, a pedida foi absurda.
R$ 130 mil para um contrato de três anos.
E R$ 1 milhão de luvas.
Celso rebateu dizendo que pedira R$ 75 mil no primeiro ano.
R$ 100 mil no segundo e R$ 130 mil apenas no terceiro.
E mais a luva de R$ 1 milhão.
O Santos não aceitou, mas esperava nova conversa.
Não houve.
O jogador simplesmente pegou todas suas coisas.
E pelo twitter anunciou que não era mais jogador do Santos.
Seu pai o levou para o Genoa da Itália.
Não conseguiu jogar.
Seu futebol não convenceu os dirigentes a contratá-lo.
Com a desculpa que não tinha passaporte europeu, voltou ao Brasil.
Foi oferecido ao Corinthians e ao Palmeiras.
As duas diretorias não quiseram o garoto.
Os dirigentes não se conformavam com a atitude do pai com o Santos.
E negaram dar qualquer chance ao meia.
Mas a direção do Flamengo resolveu apostar.
Só que os mesmos problemas vieram à tona.
Fraco preparo físico, não conseguia se adaptar ao futebol moderno.
Não queria saber de marcar e ao mesmo tempo não tinha força para grandes arranques.
Acabava sempre anulado.
De acordo com pessoas ligadas ao Flamengo, seu pai vivia perturbando a todos.
Cobrava o motivo do seu filho não ser titular.
Criou um clima muito ruim para Jean.
Ele ficou cinco meses sem ser relacionado para jogos nos juniores.
Lógico que acabou sendo dispensado.
A desculpa desta vez foi que era perseguido.
O clube lhe devia dez meses de direito de imagem e não tinha como pagar.
Por isso não o deixava jogar.
Cansado de brigas, Celso finalmente resolveu envolver um empresário poderoso.
O levou para Juan Figer.
Logo o uruguaio tentou colocar Chera no São Paulo.
Só que sua fama o precedia.
E a direção não quis o garoto nem de graça.
Ele acabou indo para o Atlético Paranaense.
Deveria jogar na equipe sub-23 que disputou o estadual de 2013.
Só que não mostrou futebol.
Acabou rebaixado para a sub-17.
Mesmo assim, foi outra vez muito mal.
Pelos velhos motivos: falta de participação tática e fraco preparo físico.
Não conseguiu se firmar.
Foi novamente dispensado.
Juan Figer usou seu relacionamento com a direção do Cruzeiro.
E levou o garoto, de graça, para Belo Horizonte.
Chegou em setembro do ano passado.
Teria um contrato de cinco meses para ser observado.
E se desse certo, depois da Taça São Paulo, poderia ter o contrato prorrogado.
Outra vez nova decepção.
Não conseguiu nem mostrar futebol para disputar a competição.
Foi excluído do grupo que viajou a São Paulo.
E dispensado do Cruzeiro.
Três meses bastaram para provar que não servia.
Esta é a triste situação atual do jogador de apenas 18 anos.
Se queimou no mercado nacional.
A análise com quem trabalhou com o meia vai para a mesma direção.
A superproteção do pai acabou por deixá-lo mimado.
Atrapalhou um período fundamental, o de formação de jogador profissional.
Na Vila Belmiro há ainda uma acusação séria.
Celso não teria levado o filho para conversar com a psicóloga do clube.
Sonia Román, que trabalhou dez anos na base santista, avisava.
Ainda em 2011, falou abertamente a jornalistas que acompanhavam o dia-a-dia santista.
"O Jean Chera é um dos poucos meninos com quem nunca falei. Sempre acharam que não precisava. Respeitei. Não vejo para o Jean Chera a mesma luz que enxergo para o Neymar. O Jean até tem uma formação boa, pais legais, mas vejo uma falha psicológica nele. (...) Sinceramente, não vejo com clareza algumas coisas na carreira desse menino. Não gosto de ser tão negativa para as crianças, mas..."
Suas declarações foram estampadas pela GE.net.
"Eu tinha certeza que o Jean iria arrebentar. Ele sempre foi muito talentoso na base", repete Neymar.
Mas o problema foi nesta transição, da base para o profissional.
Foi onde Jean e seu pai Celso, infelizmente, se perderam.
E o "Messi do Mato Grosso" procura trabalho...
Por: Cosme Rímoli, um dos melhores repórter esportivo do Brasil.
Currículo: Ganhou o prêmio Aceesp por seis vezes, como melhor repórter esportivo entre jornais e revistas de São Paulo. Trabalhou 22 anos no Jornal da Tarde. Começou com o blog no UOL, em 2009. Em sete meses, teve mais de 11 milhões de acessos. Cobriu as últimas Cinco Copas do Mundo, seis Eliminatórias para a Copa, quatro Copas América, dezenas de finais de Libertadores, Brasileiros e Campeonatos Paulistas. Mundial de Clubes no Japão 2011. O Pan-Americano do México. Três etapas do UFC. Olimpíadas de Londres 2012. Copa das Confederações em 2013. Foi a 29 países cobrir eventos esportivos.
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